quarta-feira, abril 09, 2014

GRANDE GUERRA, CEM ANOS (1914-1918), LA LYS.

9 de Abril de 1918, dia da Batalha de La Lys para os portugueses com memória. Na madrugada desta data catorze divisões alemães atacaram numa frente de dezasseis quilómetros após um bombardeamento ininterrupto de vinte e quatro horas. Contra a Divisão portuguesa os alemães lançaram quatro divisões e fizeram 6000 prisioneiros.
A confusão foi total quando os alemães descarregaram 2000 toneladas de gás mostarda incapacitante e gás letal de fosgénio sobre a linha das forças inglesas nas quais estavam incorporadas as tropas portuguesas. A utilização de armas químicas foi uma das inovações desta guerra e uma das armas mais temidas pelos Soldados: matou 85000 Soldados e deixou incapacitados mais de 1000000, sendo a cegueira uma das sequelas mais comum.


Conta a História antiga que a causa da guerra teria sido o atentado de Sarajevo em 28 de Junho de 1914 contra o amigo Arquiduque Francisco Fernando, herdeiro do trono Austro-Hungaro. Contudo, o historiador alemão Fritz Fischer descobriu documentos que demonstram que em Dezembro de 1912 o chefe da marinha alemã anunciou ao seu governo que em um ano e meio estaria pronto para "O Grande Combate". Desde então os historiadores se inclinam a crer que o motor da guerra foi a Alemanha militarista de Guilherme II. O Kaiser considerava que a Alemanha era um belo bosque destinado a crescer e a França "Um monte de esterco sobre o qual canta um galo", destinado a desaparecer. Assim o seu reinado começou com ruido estridente de botas e fanfarras. O atentado do Arquiduque foi o pretexto.
A 28 de Julho o império Austro-Hungaro declara guerra à Servia, e por motivo das alianças militares existentes, de seguida, a 01 de Agosto a Alemanha declara guerra à Rússia e em 03 de Agosto declara guerra à França. Deste modo se formou a Tripla Aliança (alemães, austro-hungaros, italianos) e a Triple Entende (França, Reino Unido e Rússia).
A primeira guerra industrializada e mecanizada provocou, alem das pilhagens, violações e execuções sumárias de civis, 10.000.000 de mortos e 6.000.000 de incapacitados.
Dos Soldados mortos cerca de 7000 foram portugueses.
 
Alguns dos Combatentes Gorjonenses
Francisco Pedro das Neves
 
José Pinto Contreiras
 
António Rodrigues Cebola

Joaquim Alexandre de Sousa
 
Manuel Viegas

Mais de uma dezena de Gorjonenses estiveram nas trincheiras de La Lys nessa madrugada de 9 de Abril de 1918 e foram submetidos ao brutal ataque alemão. Todos voltaram salvos e capazes com excepção do José Pinto Pires que foi gaseado no ataque alemão. Enquanto foram vivos a maior parte todos os anos eles comemoravam essa data com uma grande festa à volta de uma vaca ou carneiros no braseiro, bem regados a vinho, histórias da guerra e discursos e tudo abrilhantado pelo exímio acordeonista Mestre José Ferreiro(Pai), também ele camarada das mesmas trincheiras.

José Pires Pinto

O José Pires Pinto, abandonado pelo Estado que o recrutara para a guerra, e desde então, sem capacidade de raciocínio como se fora um corpo ambulante sem alma, vivendo em total escuridão mental, sobreviveu a cargo de uma irmã e velhos amigos locais mas, com ares de maltrapilho descalço de barbas grandes, passou a ser considerado um "maluquinho" que embora não fazendo mal a uma mosca metia medo aos meninos da escola primária que tinham recomendações dos pais para não lhe tocarem pois podiam "apanhar o mal" de louco que, pensava o povo, ele apanhara em França e trazia apegado ao corpo.
Afinal o maltrapilha louco maluco de meter medo, o "Zé da Barba Pinta", não fora apenas um combatente Soldado Desconhecido como fora, sobretudo, um combatente Soldado Herói Desconhecido.
Em sua memória e de todos que estiveram na lama das trincheiras de La Lys a comer ratos para sobreviver e por fim submetidos ao horror dos irresistíveis ferozes bombardeamentos alemães, aqui deixamos este relato para avivar memórias.

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